Na maioria das vezes a compra é movida por um impulso
interno que nada tem a ver com o produto adquirido. O que está por trás do consumo?
O que de fato queremos comprar?
Compramos coisas, muitas vezes desnecessárias, pra nos
sentir mais seguros e poderosos. Mas, e aí? Será que resolve? Temporariamente
talvez, mas logo será preciso outra coisa, depois outra e outra. É que a
questão básica, a nossa auto-estima, não foi trabalhada. E é isso que realmente
precisa ser nutrido. Cuidar melhor do que realmente é essencial, do que de fato
precisamos mudar em nós, dentro e fora. Melhorar nossa relação com as pessoas,
fazer coisas que nos tragam alegria, coisas que nos façam sentir criativos,
produtivos e onde nosso verdadeiro poder pessoal se apresente. Nem um carro
possante vai garantir isso, nem um vestido maravilhoso ou mobílias novas vão de
fato mudar como me sinto em relação a mim mesmo.
Somos bombardeados por propagandas que nos vendem não
margarinas, mas a família feliz, não o novo tênis, mas o corpo perfeito e a
juventude, não o modelo novo de um carro, mas o poder. As coisas prometidas não
podem ser compradas, elas têm de ser conquistadas. Temos que mudar hábitos,
refazer pactos com nossa vida, família e, até, conosco. Reconhecer nossas
conquistas, habilidades, nossas características e acreditar em nossos projetos.
Apropriar-se do que é bom em nós, valorizar o que temos e transformar o que é
preciso mudar.
Epicuro, filósofo grego, dizia sabiamente que para ser feliz
é preciso desejar e querer coisas possíveis. Se desejarmos coisas fora da
realidade vamos nos frustrar. Isso não quer dizer conformismo. Podemos e
devemos desejar o melhor para nós em todos os sentidos. Mas desejar o que pode
ser realizado. Assim, seremos mais felizes. Dando um novo significado pra vida
com valores verdadeiros, dando importância ao que é de fato importante, muitas
coisas perderão o sentido, perderão seu falso poder.
Porque poder mesmo, de verdade, é poder optar e saber se é
importante ou necessário o que estou adquirindo, se é para meu conforto real ou
se estou camuflando coisas que precisam ser vistas.
Nós somos, quase sempre, mais interessantes do que
reconhecemos.
(Publicado originalmente no jornal Metrô News / São Paulo)
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